Se a Câmara que toma posse nesta sexta-feira (1º) tem uma renovação recorde, com 243 novatos chegando a Brasília, isso não quer dizer que todos os deputados eleitos sejam neófitos na política.
Um representante dessa ala de “novos velhos” é João Roma (PRB-BA), que assumirá aos 46 anos um mandato eletivo pela primeira vez, mas construiu carreira nos bastidores políticos.
Ex-chefe de gabinete do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), de quem é próximo desde os anos 1990, o pernambucano, nascido em Recife, mas radicado na Bahia, tem também relação antiga com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e chegou a ser duas vezes presidente do braço jovem do PFL, antigo nome do Democratas.
A aproximação com Onyx, que conheceu quando este era deputado estadual, deve dar a ele um espaço na articulação política do governo na Câmara, auxiliando o líder na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), no trânsito com os parlamentares.
Roma diz que foi por solicitação do prefeito soteropolitano que ele deixou a legenda em 2016 para se filiar ao PRB —do qual faz parte da ala laica: não é evangélico e nem ligado à Universal—, como meio de se viabilizar como candidato a vice em sua chapa à reeleição.
O intento acabou não se concretizando, já que o MDB terminou por compor a chapa. O episódio, porém, retirou-o dos bastidores, principalmente na imprensa regional. Depois da eleição, pediu a bênção do presidente do DEM para que ele deixasse a prefeitura e articulasse uma candidatura à Câmara.
Antes, como presidente da juventude do PFL e membro da executiva do partido, seu nome foi citado nos jornais principalmente como relator do caso da “máfia dos sanguessugas”, em 2006.
Na época, decidia-se se os parlamentares investigados por participação em um esquema de desvio de verba para a compra de ambulâncias poderiam permanecer no partido: um foi expulso, enquanto outros quatro se mantiveram na sigla.
Neto do ex-deputado federal e ex-secretário-geral da Arena João Roma (1912-1991), que renunciou ao cargo no partido da ditadura após o AI-5, o deputado eleito diz ter começado a viver nos bastidores da política na adolescência.
“Eu cuidava do meu avô, e ele me pedia por exemplo para ligar para o ministro da Justiça, na época o Paulo Brossard [ministro entre 1986 e 1989], quando eu tinha uns 15 anos”, diz ele.
Recém-chegado à Casa, Roma tem se envolvido nas articulações da eleição da Mesa Diretora. Pelo lado dos novatos, comprou briga pública em janeiro com o primeiro-secretário da Casa, Giacobo (PR-PR), pela regra de distribuição dos gabinetes, que considera injusta.
O parlamentar critica o que chama de “aversão à política” e diz que a presença de deputados experientes “melhora a qualidade do debate legislativo”.
“Eu acho que é importante para se ter uma representação de qualidade. Muito se fala em renovação na política, mas você tem que renovar sobre alguns pilares, alguns valores. Não adianta mudar apenas pela mudança”, diz.
Texto: Folha de São Paulo